As Baleias-Franca, verdadeiros locais das praias, necessitam de ações concretas para perpetuação da espécie. Foto: Projeto Baleia-Franca.
Não vejo marca alguma investindo sério na preservação de uma praia, ou na recuperação de algum ambiente degradado. Não consigo enxergar por parte das “empresas-surfe” preocupação alguma com mensagens que despertem nos surfistas uma verdadeira preocupação com o meio-ambiente em que é praticado o surfe, leia-se: praias, mar, restingas, dunas. E pior, raramente vejo uma marca definitivamente comprometida com o desenvolvimento de projetos ecológicos, ambientais ou sócio-ambientais. Parece que continuamos a viver naquele velho e desgastado estereótipo de rato-de-praia vagabundo, desmiolado e boa-vida.
Aparentemente a única preocupação das marcas é vender a qualquer custo...Já que ninguém se manifesta - leiam-se nós surfistas, elas também não. E os surfistas pegam o vácuo. A única preocupação visível dos surfistas é conferir na Internet a direção do swell e do vento para saber em que praia vai rolar o surfe do dia. Os surfistas estão muito ocupados para se preocupar se está havendo devastação, invasão de áreas de preservação (dunas, restingas, promontórios etc), poluição de rios (que podem estar ao lado do pico), esgotos a céu aberto derivados de casas, pousadas e luxuosos hotéis. Será que estamos viajando na contra-mão? Não parece meio estranho que nós os interessados diretos na preservação daquele pico de surfe alucinante nos mantenhamos calados frente às inúmeras barbáries postas em prática diariamente por moradores, turistas e especuladores imobiliários, disfarçados de investidores ou geradores de empregos?
A situação se agrava ainda mais em locais projetados na mídia, divulgados e ostentados. Atualmente a migração de pessoas que buscam a beira-mar para viver acontece num ritmo desenfreado. O fenômeno que está ocorrendo no Brasil é algo assustador. É algo parecido com o ocorrido entre as décadas de 60 e 70 quando houve uma enorme migração populacional do campo para a cidade. Hoje, ocorre a migração cidade-praia. E Floripa é o melhor exemplo disso. A massificação de propagandas anunciando aos quatro ventos a qualidade de vida da capital catarinense está criando um verdadeiro caos na cidade, que não apresenta estrutura suficiente para atender a demanda de sedentos por uma vida melhor. Semana passada li, em um jornal do Estado, uma carta de um morador que migrou do Rio Grande do Sul e reclamava de não haver encontrado a tão propagandeada qualidade de vida. Ou seja, estava se queixando que haviam lhe aplicado o “conto da terra prometida”...
Nada de novo no monótono mundo do surfe. Todo ano é a mesma coisa. Inverno no Hemisfério Norte, altas no Hawaii, fotos e mais fotos dos surfistas brasileiros usufruindo as poderosas ondas do Pacífico Norte. Verão no Hemisfério Sul, sol, praias lotadas, verdadeiras deusas nas areias, flat no Brasil, surfistas disputando à tapa as escassas ondas do Atlântico Sul. Um crowd infernal entre os dois pólos do planeta “água” e as tendências ainda apontam para um crescimento em progressão geométrica.
Todos com o mínimo de percepção estão “carecas” de saber que o crescimento do esporte está atrelado ao crescimento do número de praticantes, consumidores e simpatizantes. As marcas também sabem disso, dessa certeza surgem as diversas propagandas veiculadas em mídias especializadas. Ou seja, nada de novo.O que me deixa boquiaberto nas propagandas das marcas envolvidas com o esporte é a latente falta de criatividade na divulgação de seus produtos e atletas. É sempre a mesma coisa, um surfista, uma onda, o nome da marca - algumas vezes em hieróglifos ininteligíveis - e nenhuma novidade.
Acredito que as marcas deveriam buscar novos horizontes para anunciar seus produtos, mostrando um comprometimento verdadeiro com o surfe. Não falo de fotos de um barco num lugar paradisíaco do Oceano Índico, ou um surfista ao lado de um moal da Ilha de Páscoa, ou ainda uma caminhonete cheia de pranchas em uma estrada deserta da Austrália. Falo de fotos de ações ambientais concretas e que nos dêem orgulho de participar de um esporte no qual seus praticantes se preocupam realmente com o futuro do planeta e do ambiente onde vivem.
O desequilíbrio ambiental torna cada vez mais comum cenas como essa. Leão Marinho na Barra da Vila. Foto: site Zimbanet.Todos com o mínimo de percepção estão “carecas” de saber que o crescimento do esporte está atrelado ao crescimento do número de praticantes, consumidores e simpatizantes. As marcas também sabem disso, dessa certeza surgem as diversas propagandas veiculadas em mídias especializadas. Ou seja, nada de novo.O que me deixa boquiaberto nas propagandas das marcas envolvidas com o esporte é a latente falta de criatividade na divulgação de seus produtos e atletas. É sempre a mesma coisa, um surfista, uma onda, o nome da marca - algumas vezes em hieróglifos ininteligíveis - e nenhuma novidade.
Acredito que as marcas deveriam buscar novos horizontes para anunciar seus produtos, mostrando um comprometimento verdadeiro com o surfe. Não falo de fotos de um barco num lugar paradisíaco do Oceano Índico, ou um surfista ao lado de um moal da Ilha de Páscoa, ou ainda uma caminhonete cheia de pranchas em uma estrada deserta da Austrália. Falo de fotos de ações ambientais concretas e que nos dêem orgulho de participar de um esporte no qual seus praticantes se preocupam realmente com o futuro do planeta e do ambiente onde vivem.
Não vejo marca alguma investindo sério na preservação de uma praia, ou na recuperação de algum ambiente degradado. Não consigo enxergar por parte das “empresas-surfe” preocupação alguma com mensagens que despertem nos surfistas uma verdadeira preocupação com o meio-ambiente em que é praticado o surfe, leia-se: praias, mar, restingas, dunas. E pior, raramente vejo uma marca definitivamente comprometida com o desenvolvimento de projetos ecológicos, ambientais ou sócio-ambientais. Parece que continuamos a viver naquele velho e desgastado estereótipo de rato-de-praia vagabundo, desmiolado e boa-vida.
Aparentemente a única preocupação das marcas é vender a qualquer custo...Já que ninguém se manifesta - leiam-se nós surfistas, elas também não. E os surfistas pegam o vácuo. A única preocupação visível dos surfistas é conferir na Internet a direção do swell e do vento para saber em que praia vai rolar o surfe do dia. Os surfistas estão muito ocupados para se preocupar se está havendo devastação, invasão de áreas de preservação (dunas, restingas, promontórios etc), poluição de rios (que podem estar ao lado do pico), esgotos a céu aberto derivados de casas, pousadas e luxuosos hotéis. Será que estamos viajando na contra-mão? Não parece meio estranho que nós os interessados diretos na preservação daquele pico de surfe alucinante nos mantenhamos calados frente às inúmeras barbáries postas em prática diariamente por moradores, turistas e especuladores imobiliários, disfarçados de investidores ou geradores de empregos?
A situação se agrava ainda mais em locais projetados na mídia, divulgados e ostentados. Atualmente a migração de pessoas que buscam a beira-mar para viver acontece num ritmo desenfreado. O fenômeno que está ocorrendo no Brasil é algo assustador. É algo parecido com o ocorrido entre as décadas de 60 e 70 quando houve uma enorme migração populacional do campo para a cidade. Hoje, ocorre a migração cidade-praia. E Floripa é o melhor exemplo disso. A massificação de propagandas anunciando aos quatro ventos a qualidade de vida da capital catarinense está criando um verdadeiro caos na cidade, que não apresenta estrutura suficiente para atender a demanda de sedentos por uma vida melhor. Semana passada li, em um jornal do Estado, uma carta de um morador que migrou do Rio Grande do Sul e reclamava de não haver encontrado a tão propagandeada qualidade de vida. Ou seja, estava se queixando que haviam lhe aplicado o “conto da terra prometida”...
Esgoto à céu aberto denunciado em post anterior do 2B Surf. Tudo isso está indo para o mar. Será o fim de uma das praias de Imbituba? - Foto: Beda Batista/2B Surf.
Voltando ao surfe, acredito que as empresas têm a obrigação de fazer muito, mas muito mais mesmo, pelo ambiente em que o esporte é praticado. Seja apoiando as Associações de Surfe em projetos ligados ao meio-ambiente, bancando suporte técnico de biólogos ou ecologistas às entidades, financiando projetos culturais e sócio-ambientais com o objetivo de preservar a história dos lugares em que se pratica o surfe, apoiando ações de organizações não governamentais ligadas à preservação do meio-ambiente, fomentando a criação de parques e áreas de preservação, patrocinando a recuperação de áreas degradadas ou desmatadas, exigindo dos governos municipal, estadual e federal que destinem parte dos valores arrecadados em impostos para fins de preservação ambiental, cobrando as efetivas prestações de contas dos governos dos valores arrecadados e aplicados com o fim preservacionista, criando um fundo das empresas do surfe voltado exclusivamente para financiamentos de projetos ecológicos e sociais, enfim as opções são inúmeras, estas são apenas algumas das ações que podem ser realizadas pelas empresas ligadas ao esporte. Depois disso, aí sim poderão vender a imagem do surfe como um esporte limpo e dos surfistas como ambientalistas realmente preocupados com a perpetuação da vida no planeta.
Resta saber: Quem dará o primeiro passo?
Beda Batista
2B Surf
* Texto originariamente publicado no site S365.com.br
2B Surf
* Texto originariamente publicado no site S365.com.br
3 comentários:
Que beleza de texto, Beda.
Cara, essas palavras aí merecem ir para um jornal ou revista de grande circulação nacional. Todos só querem sugar, e a coisa piora a cada dia. Estaremos em breve infelizmente ultrapassando o ponto em que é possível reverter a situação.
Abraço,
Gustavo
Beda, PARABÉNS!
Escrevesse o que realmente acontece: destruição, manipulação e acomodação. Todos estão errados, desde quem polui, quem não faz nada e quem se aproveita para ganhar dinheiro em cima da natureza que vai se indo. Queria tua autorização para publicar esse teu texto no site e a tua foto do esgoto, posso?
Abraço Beda e vamos nos unir mais para usar esse meio de comunicação tão vivo e eficaz nos dias de hoje. Vamos não só mostrar o swell que está para entrar, mas também a realidade que vivemos.
BOAS ONDAS!
E aí João Paulo, blz?
É triste, mas é verdade. Estamos vendendo uma imagem de "bons moços" com o surf, mas não estamos nem aí para a degradação dos ambientes em que praticamos o esporte. A informação, divulgação e denúncia disso é importante para não deixarmos o assunto cair na mesmice.
Claro, pode utilizar o texto e a foto, só não esquece de colocar os créditos.
grande abraço,
Beda Batista
www.2bsurf.blogspot.com
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