Há algum tempo atrás recebi as revistas de surfe que assino e li que o novo CEO - Chief Executive Office da ASP está sendo aguardado, pela diretoria da entidade, como um novo divisor de águas do circuito mundial, viabilizando maiores investimentos junto às empresas de dentro e fora do mercado surfe.
Fiquei com a “pulga atrás da orelha” com esta notícia, pois na minha singela opinião o que realmente possibilitará ao surfe atingir novos horizontes é a reestruturação do modelo atual das competições e não um novo “boss” da suprema ASP.
Enquanto esportes como o skate, ciclismo, atletismo, automobilismo, tênis e até o golfe, são exibidos em horários nobres na “Vênus Platinada”, leia-se televisão, o surfe continua restrito ao público que pega onda. Ou seja, em geral são surfistas que prestigiam os campeonatos de surfe. O grande público que poderia assistir a um campeonato de surfe pela televisão aberta não o faz porque não há exibição dos eventos. Estou falando, exclusivamente, de canais abertos de televisão e não de canais de TV a cabo, que recentemente conseguiram visualizar a grandeza do surfe e do mercado que este abrange e estão investindo forte nas transmissões de eventos ao redor do mundo, transmitindo inclusive as finais ao vivo.
Contudo, não se trata de falta de interesse das emissoras, visto que, são veiculadas inúmeras matérias versando sobre a arte de deslizar sobre as ondas. O que ocorre é que o formato estabelecido para o esporte está completamente voltado às revistas e, de maneira mais recente, aos sites especializados acabando por limitar a veiculação de um campeonato, mesmo que seja uma etapa do WCT - World Championship Tour (Circuito Mundial de Surfe). Lembro que quando rolou em 1986, na Praia da Joaquina, em Floripa, o Hang Loose Pro Contest o evento foi transmitido por uma Rede de TV. Porém o pioneirismo daquela transmissão deu lugar aos interesses e à atratividade capitalista do marketing. Como o formato dos campeonatos mudou muito pouco, para não dizer quase nada, as redes de televisão não se interessaram em transmiti-los, pois não é fácil assistir uma bateria de 20 minutos com quatro atletas, pegando um sem número de ondas, mas pontuando apenas em 02 ou 03 delas. Para quem não surfa ou conhece ao menos um pouco do esporte fica realmente entediante.
O surfe caminhou com as próprias pernas até a atualidade, criando um mercado próprio de roupas, equipamentos, viagens e mídia, mas acredito que se queremos pensar o esporte como uma modalidade olímpica, difundida e profissionalmente viável é necessário que os cartolas do surfe abram os olhos e percebam que a possibilidade de crescimento do esporte está diretamente ligada às transmissões de eventos pela TV.
A equação é simples: Patrocinador quer retorno para a Marca. A televisão proporciona um dos mais rápidos retornos de investimento em propaganda, justamente, por atingir de forma veloz e contundente uma grande parcela da população.
Maior visibilidade = Maior alcance das Marcas = Maior volume de investimento no esporte = Melhores Premiações = Maiores SALÁRIOS aos Surfistas.
A engrenagem está toda pronta, porém é necessário que o molde dos eventos seja revisto de maneira a se adequar às grades de programação dos canais abertos de televisão.
Fico me perguntando o que os dirigentes do esporte estão esperando para alavancar a imagem do esporte em horários nobres nas televisões deste mundão. Só posso acreditar que é a preocupação com o crowd que já está em ascensão. Certamente a veiculação de finais de campeonatos de surf em uma TV Globo, por exemplo, contribuirá significativamente para “agravar” o atual quadro de crowd que muitas vezes beira o insuportável.
De qualquer forma, o formato atual das competições de surfe continua monótono. Como sugestão poderia ser utilizada uma formatação que privilegiasse não quem pegou o maior número de ondas, o qual, teoricamente, tem mais chances de surfar as melhores ondas da bateria e descartar as outras, mas quem fizesse por merecer num determinado número de ondas. Poderiam ser duas, três ou quatro ondas surfadas por cada competidor. No Brasil existe um modelo que já é utilizado pela FECASURF - Federação Catarinense de Surf, no chamado “Surfing Games Fast Heat” ou Jogos de Surfe com baterias rápidas realizadas nos confrontos entre as associações de surfe do estado. Neste modelo desenvolvido por Jordão Bailo Júnior, Vice-Presidente da entidade, os competidores têm 10 minutos para surfar 03 ondas e todas são computadas. Ou seja, não há o chamado descarte. Cada onda surfada pelo atleta vale pontos. Dessa forma, o surfista é “obrigado” a ser mais criterioso na escolha de ondas e explorar ao máximo cada manobra executada objetivando a maximização das notas.
Como as baterias são curtas, o público acompanha com mais atenção às baterias e participa mais, apoiando, incentivando e vibrando com a performance dos atletas.
Um formato mais enxuto, possibilitaria a veiculação de uma final do WCT, por exemplo, em horário nobre nos principais canais de televisão do mundo. Uma bateria homem a homem de 20 minutos, acontecendo em Teahupoo, Pipeline, Joaquina ou Vila seria sem dúvida alguma uma grande “vendedora” de quaisquer tipos de produtos.
Enquanto isso não acontece, ficamos assistindo ao esporte irmão, o skate, sendo bem representado pelos filhos desta Pátria Amada, Brasil.
Há quem prefira o golfe ou o tênis, que por sinal pagam ao vencedor de uma única etapa o equivalente ao que é pago aos surfistas durante todo um ano de circuito.
Dar uma nova (ou velha) roupagem aos eventos de surfe é o grande passo a ser dado para o fortalecimento do esporte. Remodelar os eventos, agregando feiras, oficinas de shapers, aulas de surfe e mostras contando a história do esporte e das competições é uma alternativa ainda não explorada de verdade.
Aloha,
Beda Batista.
Texto originalmente publicado nos sites:
www.s365.com.br
www.clickpraias.com.br
2 comentários:
Bem vindo ao outside.
abrazzo
Julio
Valeu, Julio.
abração,
Beda.
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