No último post falei sobre o vice-campeonato conquistado pela ASI no Circuito Catarinense de Associações de 2007, finalizado na Praia do Santinho, em Florianópolis, nos dia 04 e 05 de abril de 2008. Num protesto pessoal, resolvi não escrever enquanto estivesse puto da cara. Eu estava irado, não com o resultado do evento. Embora não tivéssemos conquistado o título, um vice-campeonato estadual entre 32 associações não é um resultado ruim. Mas da maneira como me senti lesado, por ter sido comunicado de algumas restrições em cima da hora. Águas passadas não movem moinho, então seguimos o curso das águas e estou aqui novamente falando mais uma vez da última etapa do Billabong Surfing Games, o Circuito Catarinense de Associações.
Quem esteve na praia no domingo, de sol e com altas ondas, presenciou um show de surf em todas as categorias, confirmando o alto nível competitivo dos atletas catarinenses, desde as categorias de base até os mestres da categoria homônima.
Naquele domingo depois da premiação estávamos na pousada fazendo um balanço dos erros e acertos que tivemos na última etapa e descontraindo antes de levantarmos acampamento da Ilha de Santa Catarina.
Conversando com Fábio Carvalho, que é sem sombra de dúvidas, o maior nome do surf Imbitubense até hoje. Conquistando diversos títulos: Campeão Catarinense Amador em todas as categorias em que competiu (Mirim, Júnior, Open; Bi-Campão Catarinense Profissional, Top 16 do Circuito Brasileiro e Catarinense, Campeão Imbitubense PRO-AM, Campeão Sul-Brasileiro Profissional, Campeão do 1º Desafio No Fear de Ondas Grandes, Representante Imbitubense no WCT Brasil 2007 e por aí vai.
Fábio Carvalho, é um cara exemplar dentro e fora d'água. Nesta foto durante o Hang Loose Santa Catarina PRO 2007 sendo aclamado por uma multidão. Foto: Aleko Stergiou.
Fabinho, como é carinhosamente conhecido pela galera do surf, é um cara iluminado. Dono de um carisma inigualável na principal surf city do sul do Brasil, o cara irradia uma luz própria que ofusca muita gente. Poderia ter sido facilmente um Top do Circuito Mundial, surf ele tem de sobra. Quem não lembra das seguidas escovadas do Fabinho no Neco Padaratz em vários campeonatos do Circuito Catarinense? Mas a vida dá voltas e nos prega muitas peças. Essas que o destino nos arma vez por outra. Quando estava despontando no cenário competitivo brasileiro sofreu uma grande perda pessoal que abalou a sua estrutura emocional e o fez abrir mão de viajar para ficar mais próximo de sua mãe e seus entes queridos. Alguns diriam que fez a escolha certa, outros não. Mas quem pode julgar ou não as decisões que tomamos em nossas vidas? Senão nós mesmos?
Certamente, as decisões tomadas por esse guerreiro Imbitubense foram as mais acertadas para ele como pessoa e não há ninguém que possa dizer o contrário.
Naquele domingo conversando com ele na pousada depois de assistir o maior show de surf apresentado no evento, disse à ele o quanto o surf é um esporte ingrato.
Deixa eu explicar:
O evento tem sua concepção em “Fast Heat” ou baterias rápidas. Nesse sentido, as baterias são de apenas 10 minutos e foi convencionado, entre os chefes de equipes e o head judge, no início da competição que poderiam ser surfadas até 3 ondas (normalmente são 2 ondas) mas somariam apenas as 2 melhores notas. Na semifinal, com quatro atletas, Fabinho precisava de 0,45 pontos para se classificar, atrás de Júnior Maciel, representante da Guarda do Embaú, deixando para trás Alessandro Castro, em terceiro e Carlos Santos, em quarto lugares, ambos representando a Joaquina e a Praia do Rosa, respectivamente.
Acontece que essa onda não veio, até a regressiva. Quando foi iniciada a contagem regressiva, Fabinho dropa reto numa espuma de dar dó e a bateria é encerrada. Eu tinha perdido as esperanças, quando foi anunciado pelo locutor “Fabinho Carvalho precisava de 0,45 e ele conseguiu....” A explosão de alegria foi imediata. Nosso guerreiro mais uma vez mostrou que não devemos desistir nunca. Mas a história estava apenas começando. Depois de encerradas as semifinais das outras categorias foram iniciadas as finais de todas as categorias. Mais uma vez Fábio Carvalho mostrou que um surfista não é feito apenas dentro d’água, mas que as ações praticadas em terra refletem no surf e nas oportunidades que se apresentam também nas competições.
Na bateria final Master Fabinho deu um show de surf. Aos 2 minutos da bateria Waldemar Wetter, o Bilo, abriu a bateria com uma nota 3,25. Em seguida Fabinho pegou uma onda da série e veio esculachando a bendita com o seu variado repertório de manobras até a beira, aonde completou um tubo seco para delírio de todos que assistiam a bateria. Nota 9,50 que merecia um 10. Junior Maciel pegou uma onda fechando e marcou 0,90. Nesse momento Fabinho voltava ao outside quando entrou outra série. Ele não titubeou e pegou a onda que David Husadel remou e não entrou. Novamente uma mostra genial de um surf altamente competitivo. Fabinho quebrou a onda até o inside, marcando 8 pontos e deixando os outros atletas em situação complicada. Fabinho voltou ao outside e pegou a próxima onda da série, novamente fazendo um tubo que não abriu como o primeiro, mas finalizando com uma porrada na junção em que muito marmanjo alisaria. Terceira onda nota 7,0 que entrou no descarte. Fabinho liquidou a fatura, fez a maior somatória do evento, 17,50 pontos, além da melhor onda da competição, um 9,50, deixando os outros atletas em combination. Ou seja, precisavam de uma onda extra para alcançar o velhinho. Em 5 minutos de bateria Fábio Carvalho mostrou o quão ingrato o surf pode ser.
Fabinho quebrando a onda do Santinho para marcar 9,50 pontos e garantir mais um show de surf na carreira. Foto: Basílio Bosquê Ruy.
Se aquela onda “retside” não tivesse aparecido na regressiva da semifinal, a praia inteira não assistiria ao show proporcionado pelo “Galo de Imbituba”, um cara humilde, acessível e boa gente que faz dos vieses da vida o combustível para continuar lutando e surfando. No seu discurso emocionado no momento da premiação, confesso que chorei. Chorei por ver ali um guerreiro, um cara de um coração gigante que compartilhava com toda a equipe não apenas àquela vitória, mas uma carreira toda de superação de obstáculos seja por falta de patrocínio, por perda de pessoas das quais ele amava, e, acima de tudo, por ter que provar sempre que tem surf no pé.
Parabéns Fabinho, tu és o CARA.
Aloha,
Beda Batista
2B Surf