O sul-africano Shaum Tomson é uma lenda viva do surf que a molecada desconhece. Foto: surfcollectivenyc.com
Voltando ao surf, a minha primeira e anunciada decepção foi a mudança da etapa mundial do WT de Imbituba-SC para o Rio de Janeiro, por pressão da nova patrocinadora, a Billabong. Não tenho nada contra o Rio, é um lugar paradisíaco, com belas praias, gente bonita, programas de pacificação das favelas, Rede Globo e outros maus necessários. Agora, tirar uma etapa de uma das praias mais constantes e tranquilas do Brasil e levar para aquela loucura em que o Rio se transformou e ainda sob um força barra em que rolou o evento, dá até um desânimo em assistir. Só com muito dinheiro mesmo para justificar algo do tamanho da burrada feita pela Billabong.
De lá para cá, as portas do circuito mundial foram mais uma vez "arrombadas" pelos tupiniquins liderados por Medina, Pupo e cia. Com a mudança nos critérios da ASP, o cenário mundial do surf foi redesenhado por essa galera que veio para comandar o show ao lado do, sempre se superando, e, genial Slater, que por ironia do destino e mancada nos cálculos da ASP, foi aclamado campeão pela décima primeira vez, uma bateria antes. Este erro grosseiro da entidade máxima do esporte causou um tremendo mau estar na cúpula do surf mundial, pois foi o próprio Slater, numa atitude decente e digna de um campeão, que entrou em contato com a ASP para informar do erro, descoberto pelo até hoje desconhecido internauta Marc e, que fez com que a ASP tivesse que declará-lo campeão por 2 vezes, fazendo cair, inclusive, o CEO da entidade, o aussie Brodie Carr. Ou seja, a credibilidade da entidade perante patrocinadores e público em geral acabou arranhada por uma falha que deveria obrigatoriamente ser detectada dentro da própria ASP e, preferencialmente, antes de declarar o campeão do circuito, o que não ocorreu.
Bem, a minha divagação por estes assuntos talvez desconexos para o leitor, são na verdade para dizer que nós surfistas precisamos cada vez mais aprendermos a respeitar nossos pares. Por isso, destaquei a elegância da atitude de Mr. Slater.
Atitudes de respeito com o próximo partem de casa, são lições caseiras e não se aprendem em escolas, nem tampouco são obrigações pedagógicas de professores. Esse respeito que devemos ter com o próximo deve ser transmitido pelos pais e responsáveis, educando seus filhos para a vida em comunidade. Dentro do esporte encontramos casos como o do jovem carioca, Vitor Suarez Cunha, que citei acima espancado quando tentava proteger um desconhecido. Vimos surfistas locais tratarem como "haoles" pessoas que nunca viram, pelo simples fato de acreditar que o seu direito é prioritário sobre o visitante, pois ele dedica sua vida àquele pico. Tenho visto e vivido ambos os lados dessa história. Frequento várias praias catarinenses, tenho surfado muito no norte do estado ultimamente e encontro sempre pessoas legais, com as quais faço amizade e troco informações sobre viagens, praias, matérias etc. Encontro também trogloditas que vivem apenas olhando para frente, sem perceber que o mundo à sua volta evolui e que quem se isola, termina seus dias sem amigos e sem conhecer nada além dos limites de sua praia.
Lembro claramente que quando comecei a surfar em 1987, tínhamos uma espécie de admiração pelos surfistas mais velhos e os respeitávamos pela experiência que tinham e pela história dentro do esporte, mas sobretudo pela educação que recebemos de nossos pais. Buscávamos aprender observando os mais velhos e em contra-partida recebíamos também o seu respeito. Hoje em dia, moleque tá dentro da água fazendo alarde e zuando com qualquer um, sem ao menos buscar saber quem é quem dentro d'água e sem qualquer conhecimento dos primórdios do esporte e nem ouviu falar ou pesquisou a respeito de lendas como Barton Lynch, Mark Richards, Tom Curren, Shaun Tomson, Wayne Baartholomew, Ronnie Burns, Larry Bertlemann, entre muitos outros.